• “Estou grávida e agora?” – A respeito da maternidade do ponto de vista psicológico.

     

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    Com a proximidade do dia das mães, resolvi escrever a respeito da maternidade, com o intuito de apresentar alguns aspectos psicológicos presentes nesse contexto que poderão fazer “eco” aos leitores (em especial às leitoras) que por ventura estejam se perguntando – “E agora?”.

    A maternidade se trata de um período de mudanças[1] na vida de toda mulher e essas mudanças não acontecem só no corpo. É bem verdade que elas são as mais fáceis de serem reconhecidas, são os seios que ganham mais volume, a barriga que cresce e o bebê que se mexe.

    No entanto, existem outras mudanças que são menos evidentes, mas nem por isso deixam de ser importantes, na verdade, são essenciais. Que mudanças são essas? A mudança psíquica que ocorre na vida da mulher que precisa passar do papel de filha para o papel de mãe, assim a gestante deve criar um espaço para bebê ocupar em sua vida. Outra modificação importante é o valor social da maternidade na atualidade, visto que a grávida é tratada de forma diferenciada pelas pessoas que ela conhece e não conhece. Em alguns momentos sente-se invisível em sua condição de “mulher”, pois, a atenção é dada a barriga e as perguntas dirigidas quase que exclusivamente ao bebê –  “Pra quando é?”.

    Faz parte desse contexto sentimentos diversos e muitas vezes ambivalentes. Há momentos em que a grávida sente que deseja e não deseja, fica feliz e triste, sente-se aliviada e apreensiva, em meio a outras sensações contraditórias entre si. Essas sensações são comuns e vão ao encontro dos fenômenos psíquicos da gravidez.

    Muito comum durante o ciclo gestacional é a presença da ansiedade, que pode se apresentar em diferentes momentos como: nos primeiros exames, nas dúvidas quanto à saúde do bebê, na descoberta do sexo da criança, em como será o parto, se o médico que a acompanha conseguirá realmente se fazer presente durante o parto, como será a amamentação, os primeiros cuidados…

    pele-gravida-cabelo-gestante-gravidez-1Há ainda outro tipo de ansiedade que decorre inconscientemente. Isto porque, todos nós (homens ou mulheres) ao nascermos sofremos com a angústia de separação, ao sermos separados corporalmente de nossas mães, com o nosso crescimento essa marca de angústia vai sendo encoberta com novas vivências. O que ocorre então, é que na experiência da maternidade, essa angústia é reativada no psiquismo da mulher com a proximidade do parto. Assim, subjetivamente, cada mulher lidará com essa ansiedade à sua maneira.

    Do ponto de vista psicológico, a grávida tende a vivenciar esse período tentando remontar sua própria gravidez. Algumas querem saber de suas mães como foi a gestação, o parto, os cuidados. Isso acontece por se tratar de um momento peculiar, a gestante tende a questionar-se sobre sua identidade, subjetividade e construção de vínculos. Tendo em vista que a expectativa de ser mãe para a mulher advém do primeiro relacionamento vivido com sua mãe[2].

    São nove meses intensos em que a mulher se torna, se transforma, se encontra e se perde. Outros sentimentos podem ocorrer durante esse período e alguns tornam-se muito difíceis de serem contornados, como o período em que se deu a gravidez, o momento do casal, a implicação do nascimento de um bebê na vida profissional da mulher, a dificuldade de se imaginar como mãe, etc… A escuta de gestantes na clínica revela esses fenômenos, entretanto, cada grávida é uma mulher em sua subjetividade, a necessidade de buscar por um profissional, vai depender da forma como ela irá lidar com suas emoções e com o sofrimento que elas podem lhe causar.

     


    [1] SZEJER. M, STEWART. R. Nove meses na vida de uma mulher: uma abordagem psicanalítica da gravidez e do nascimento. São Paulo: Casa do Psicólogo; 1997.

    [2] CHODOROW N. Psicanálise da maternidade. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos; 1990.

     

    Por Bruna Alencar (Psicóloga e Psicanalista) – Mogi das Cruzes – SP

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